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quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Caso Natascha Kampusch

Natascha Maria Kampusch nasceu em Viena (Áustria) no dia 17 de fevereiro de 1988. É conhecida por causa de seu sequestro aos dez anos de idade, em que passou oito anos em cativeiro. É filha de Ludwig Koch e Birgitta Sirny Kampusch. Na infância ela não tinha boa relação com a mãe. Ludwig Adamovich, chefe da comissão especial que se seguiu à libertação para examinar possíveis falhas na investigação policial, afirmou que “o tempo em que Kampusch esteve aprisionada talvez tenha sido melhor que o que ela viveu antes”, declaração vigorosamente refutada pela mãe de Natascha que ameaçou processar Adamovich por suas declarações.

Sua família incluía duas irmãs adultas e cinco primas e primos. Seus pais se separaram quando Natascha ainda era criança e se divorciaram após seu desaparecimento. A menina passava temporadas com os dois e havia voltado para a casa da mãe após uma viagem e férias na casa do pai quando foi sequestrada.

Natascha saiu de casa para a escola, no distrito de Donaustadt, em Viena, na manhã de 2 de março de 1998, mas não chegou à escola nem voltou para casa. Uma testemunha de 12 anos afirmou ter visto a menina ser agarrada por dois homens e jogada dentro de uma van branca (depois Natascha diria ter sido apenas um, o sequestrador). Uma grande busca policial se deu nas horas e dias seguintes, com 776 vans sendo revistadas em toda a área metropolitana de Viena e arredores. Entre as vans revistadas, estava a do sequestrador, Wolfgang Přiklopil, que vivia a cerca de meia hora de carro do centro de capital, em Strasshof an der Nordbahn, mas não causou nenhuma suspeita. Parado e interrogado numa batida policial, ele disse à polícia que tinha passado a manhã do sequestro toda em casa e que usava a van para transportar material para sua casa, que estava reformando.

Wolfgang Přiklopil era um técnico de telecomunicações austríaco. Filho único de Karl e Waltraud Přiklopil, seu pai era vendedor de conhaque e sua mãe de sapatos. Durante algum tempo, exercendo sua profissão, Wolfgang trabalhou na Siemens (conglomerado alemão de engenharia).

Especulações sobre quadrilhas de pornografia infantil ou de tráfico de órgãos humanos começaram a aparecer na imprensa, levando a polícia a fazer investigações buscando ligações com possíveis crimes do pedófilo e assassino francês Michel Fourniret, quando este foi descoberto alguns anos depois, ainda durante o cativeiro de Natascha.

Como Natascha estava com seu passaporte quando foi raptada (ela havia feito uma viagem à Hungria dias antes com o pai), as buscas foram também levadas no exterior. Acusações contra sua família complicaram mais as investigações, com insinuações de que a mãe dela estava de alguma maneira envolvida no crime ou em seu acobertamento.

Durante os oito anos em que esteve sequestrada, Natascha foi mantida numa pequena cela de 54 m² na garagem da casa de Přiklopil, com a entrada dela escondida atrás de um armário. Sem janelas e à prova de som, a cela tinha uma porta feita de concreto reforçada com aço. O pequeno local tinha uma pia, vaso sanitário e uma cama tipo beliche onde ela dormia na parte de cima e usava a escada para pendurar roupas.

Nos primeiros seis meses de cativeiro, Natascha não teve permissão de sair da cela em nenhum momento, não pode tomar banho, não podia olhar nem falar com Přiklopil sem autorização e por vários anos não pode deixar o pequeno espaço à noite. No primeiro ano, era obrigada a chamar seu captor de mestre.

Com um ano e meio de cativeiro, ele decidiu que Natascha não podia mais usar seu nome e agora pertencia a ele; assim ela foi obrigada a escolher outro nome, e passou a chamar-se Bibiane, sua identidade pelos próximos sete anos. Pouco tempo depois, ele lhe disse seu verdadeiro nome, e com isso Natascha teve a certeza de que seu raptor nunca a deixaria sair dali viva.

Submetida a anos de abuso físico e mental, Natascha muitas vezes dormia algemada a Wolfgang na cama dele, era obrigada a raspar a cabeça para que fios não ficassem pela casa, passou períodos de fome, chegou a apanhar mais de 200 vezes numa semana até ouvir sua própria espinha estalar, era obrigada a limpar a casa quase nua e tentou várias vezes o suicídio para acabar com a vida.

Com 16 anos, em vários períodos Přiklopil reduziu sua ração diária a ¼ do necessário a alguém da idade dela. Em uma oportunidade, quando ela demorou a cumprir uma de suas ordens, ele lhe atirou uma faca, que perfurou seu joelho.

Anos depois, podia passar grande parte do dia na parte de cima da casa mas era levada de volta à câmara para dormir ou quando o sequestrador saía para trabalhar. Durante seu tempo ali, teve acesso à televisão e rádio, controlados por seu raptor. Nos últimos anos de cativeiro, ela chegou a ser vista sozinha no jardim e até no carro de Přiklopil e um dos colegas de negócios de Přiklopil disse ter visto a jovem com ele quando o sequestrador esteve em sua casa para pedir um trailer emprestado.


A casa, onde havia um telefone interno entre os cômodos comuns e a cela de Natascha, para que o sequestrador pudesse falar com ela sem descer até lá, foi várias vezes visitada pela mãe de Wolfgang, Waltraud, que chegou a cozinhar e arrumar para o filho. Ela, porém, declarou depois que nunca notou a presença de mais alguém na casa, apesar de, por vezes, notar um certo “toque feminino” em sua arrumação, mas sem nunca pensar de onde aquilo poderia ter vindo.

Depois de fazer 18 anos, ela começou a ter permissão de sair da casa com seu captor, mas ele ameaçava matá-la se ela tentasse algo na rua. Um dia, Přiklopil levou-a a uma estação de esqui perto de Viena para esquiarem por algumas horas. Depois de libertada, ela inicialmente negou esta viagem, mas acabou admitindo ser verdade dizendo que não teve nenhuma chance de escapar. Mesmo assim, Natascha muitas vezes tentava discretamente atrair a atenção, já que por anos suas fotos cobriram toda a Áustria: “Eu tentava fazer algum sinal às pessoas... Eu tentava sorrir como eu sorria nas fotos (as fotos delas transmitidas pela televisão e coladas nos postes e árvores de Viena e seus arredores depois de seu desaparecimento) para que as pessoas pudessem se lembrar de mim”. Mas ela nunca foi notada.

De acordo com o depoimento oficial de Natascha após libertada, ela e Přiklopil acordavam cedo para o café da manhã juntos. Ele lhe deu livros, de modo que ela pode se dar uma autoeducação e, de acordo com um amigo do criminoso que a havia visto uma vez, parecia feliz. 

Anos depois, explicando o sentimento de que não havia perdido nada durante seu confinamento, ela declarou: “eu me poupei de muitas coisas, como cigarros, bebidas e más companhias”. Mas acrescentou: “eu sempre pensava: eu não vim ao mundo para viver trancada e ter minha vida completamente arruinada. Me entreguei ao desespero com essa injustiça. Sempre me senti como uma pobre galinha num galinheiro. Vocês viram minha cela na televisão e na mídia e hoje sabem como era pequena. Era um lugar de desespero”. 

Dietmar Ecker, o assessor de imprensa de Natascha, declarou depois que ela lhe havia dito que às vezes Přiklopil lhe batia tanto que ela mal conseguia andar. Quando ela ficava roxa de tanto apanhar, ele tentava reanimá-la, pegava uma câmera e a fotografava.

Přiklopil havia amedrontado Natascha dizendo que as portas e janelas da casa tinham armadilhas cheias de explosivos e que ele dormia com granadas sob o travesseiro. Também a ameaçava dizendo que sempre carregava uma arma e a mataria e aos vizinhos se ela tentasse fugir. Em uma ocasião, ela fantasiou a ideia de cortar a cabeça de seu raptor com um machado mas desistiu da ideia. Durante todo o tempo em que esteve presa, prometia a si própria que “iria crescer, ficar mais forte e resistente e um dia seria capaz de ser livre de novo”.

Em 23 de agosto de 2006, Natascha estava no jardim lavando e passando o aspirador de pó no BMW 850i de Přiklopil quando, às 12:53, ele recebeu um telefonema no celular.

Por causa do barulho do aspirador, ele se afastou para outra área da casa para poder atender ao chamado. Deixando o aspirador ligado, ela saiu correndo pelo jardim sem ser vista por ele, que, de acordo com o que o interlocutor informou mais tarde aos investigadores, se comportou por toda a conversa sem parecer distraído ou perturbado. Natascha correu por cerca de 200 m entre os jardins das casas vizinhas e pela rua, gritando para que chamassem a polícia, mas sem obter atenção.

Depois de uns cinco minutos de fuga, bateu na janela da casa de uma senhora de 71 anos, Inge, a mesma da casa de seu cativeiro, gritando “Eu sou Natascha Kampusch!”. Levada para o fundo da casa por Natascha, que temia que Přiklopil as descobrisse e matasse as duas, a senhora chamou a polícia, que chegou às 13:04. Natascha foi levada pelos policiais à delegacia de Deutsch-Wagram. O sequestro havia terminado, depois de 3096 dias de cativeiro.

Natascha foi identificada pela cicatriz que possuía, pelo passaporte achado após as buscas na casa de Přiklopil e por exames de DNA. Ela foi encontrada em boa saúde física, apesar de pálida, tremendo e pesando apenas 48 kg, aproximadamente o mesmo peso (45kg) que tinha aos 10 anos quando foi sequestrada, e tinha crescido apenas 15 cms.

Sabine Freudenberger, a primeira policial a ter contato com Natascha após a libertação, declarou que ficou impressionada pela inteligência e articulação da jovem. No cativeiro, após os dois primeiros anos, Přiklopil lhe havia dado livros, ensinado matemática, permitido acesso à televisão, jornais e rádio, e ela ouvia sempre a Ö1 International20, a estação oficial internacional da Áustria, uma estação de rádio dedicada à educação e música clássica também com transmissão em espanhol e inglês.

Com a fuga de Natascha, Wolfgang Přiklopil fugiu da casa e vagueou o dia todo por Viena. No fim do dia, sabendo que toda a polícia do país o caçava, suicidou-se jogando-se na frente de um trem em movimento perto da estação Wien Praterstern, no norte da cidade. Ele havia dito a Natascha que “nunca o pegariam vivo”.

Natascha Kampusk passou os primeiros dias de liberdade na ala psiquiátrica para crianças e adolescentes do Hospital Geral de Viena, aos cuidados de médicos e enfermeiras, sem contato com a família e sem permissão de sair, dividindo a área comum com jovens meninas anoréxicas e crianças que se auto-infligiam ferimentos, longe do mundo exterior do qual havia sido privada por oito anos, enquanto a imprensa do mundo inteiro enlouquecia sem notícias do lado de fora. 

Imagens de seus cativeiro e mesmo das coisas pessoais que tinha escondido de seu captor nele, como roupas e um diário, apareciam constantemente na televisão, revistas e jornais. A princípio, seus pais não tiveram permissão de médicos e autoridades para encontrá-la pessoalmente.

Hoje, Natascha Kampusch vive em reclusão voluntária no apartamento que comprou no centro de Viena. Raramente sai à rua, para evitar ser reconhecida e, eventualmente, até ser insultada, por pessoas que a consideram responsável pela morte de Přiklopil. As ilações que vez por outra aparecem na imprensa de que ela possivelmente teria sido cúmplice e refém voluntária de Přiklopil durante seus anos de cativeiro a traumatizaram e já a fizeram pensar em suicídio ou em se mudar de Viena. Ela passa o tempo estudando, pintando e tirando fotografias. Seu projeto pessoal, é passar tão desapercebida quanto possível.

Em 2011, ela entrou com um pedido de indenização de €1 milhão de euros contra o Estado austríaco (€323 por dia de cativeiro) pela incompetência dos serviços de segurança do país em resgatá-la após seu sequestro.

Créditos ao Wikipedia.

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